Antropocênica
Situada no encontro e interação entre as esferas da Filosofia, Arqueologia e Arquitetura, a série internacional Antropocênica se constitui pelo exercício transdisciplinar, em duas edições já realizadas (Portugal em 2022 e no Brasil em 2023), para refletir sobre e para além do chamado Antropoceno, época das transformações provocadas no planeta por impactos da atuação humana, mas aqui considerada desde um passado remoto ao presente, sob o Capitalismo, em que predomina o modo de vida urbano e reverberam múltiplas formas de violência inerentes ao sistema. Antropocênica não é sinônimo de Antropoceno: a perspectiva da série é mais ampla ao abranger a humanidade na história, mas relevando-se os impactos da colonização e do capital nas dinâmicas engendradas no mundo contemporâneo.
Para além do palimpsesto, sugerido pela imagem expressiva dos vestígios físicos contrastantes que restam de outras temporalidades nos lugares habitados, propomos aqui a metáfora da paisagem como teatro, na dimensão sugestiva da paisagem enquanto cena ou expressão cênica — palco-arena-lugar — transformada no tempo, ambiente em que as sociedades agem, atuam, habitam.
Idealizada pelo filósofo Dirk Michael Hennrich e pelo arquiteto e arqueólogo Silvio Luiz Cordeiro, a Antropocênica nasceu primeiramente em 2018 como projeto de ensaio audiovisual que, no mesmo ano, desdobra-se em iniciativa maior: produzir uma série internacional aberta aos estudos, reflexões e debates críticos sobre as "cenas do drama humano no teatro do mundo em mutação", reunindo pessoas em áreas diversas do conhecimento. Em 2019, o escritor e filósofo indígena Ailton Krenak é convidado para participar da série. No ano seguinte, a arqueóloga Maria da Conceição Lopes passa a integrar a coordenação geral com ambos idealizadores, visando a produção de três encontros.
Antropocênica abriga, desde sua origem em 2018, a transversalidade na interconexão de áreas que abrangem da filosofia às artes, do urbanismo à arqueologia, da história à antropologia, da geografia à geologia, entre outras disciplinas afins.
Como cenário de fundo, a curadoria propõe a perspectiva da experiência histórica da colonização empreendida pelos ibéricos a partir do século XV, mas com ênfase na expansão marítima portuguesa, compreendida como processo transformador-construtor de sociedades e paisagens culturais diversas, ao configurar um império de novo tipo, isto é, formado por territórios não-contíguos, interconectados por vias marítimas. Deste modo, evidenciamos lugares intensamente explorados no passado, lugares dominados por colonos e mercadores, sob a chancela de Portugal. Tal perspectiva contribui para se reconhecer a complexa trama de relações de dominação e intercâmbios havidos, que está na origem de problemas estruturais vivenciados no presente por sociedades do chamado Sul Global.
A série assim releva a complexidade de interações entre múltiplos agentes e fatores envolvidos na violenta exploração de seres (humanos e não-humanos) e ambientes, abrindo espaço às formas contemporâneas de pensamento, representação e elaboração de narrativas críticas ao Capitalismo que expande o modo de vida urbano no planeta; e de expressão artística, filosófica e científica, incluindo aquelas produzidas por etnias historicamente subjugadas na exploração colonial.
Em 2024, a Antropocênica aconteceu novamente em Portugal, depois seguiu viagem para Cabo Verde, quando concluímos o terceiro encontro da série em sua jornada coletiva de três anos.
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